segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Não por Acaso



Quando acabei de assistir ao Não por Acaso saí do cinema filosofando sobre o tempo. Ou sobre a inevitabilidade de certas coisas na nossa vida. Quantas vezes eu no pensei no que poderia ter me acontecido se eu resolvesse ir por um caminho diferente para a escola! Ou quantas vezes eu escapei de ser atropelado por uma questão de segundos. Lembro de uma vez, quando eu devia ter os meus 8 anos, quase fui atropelado por um trem. Estava eu e meu irmão descendo uma ladeira a toda quando passamos pelo trilho sem nem olhar e escutar nada. Eu consegui atravessar. Já o meu irmão foi puxado pela camisa por um senhor que de certo modo acabou salvando a sua vida. Imagino o que teria acontecido se tivéssemos demorado um ou dois segundos.
Não por Acaso é um filme sobre destino. E como falei acima, sobre a inevitabilidade de determinadas coisas em nossa vida. Pode ser encarado também como um longa sobre superação e a busca do ser humano por controle. Utiliza a velha formula (que confesso nunca ter visto em filmes nacionais) de destinos que se cruzam. Na estória, Ênio (Leonardo Medeiros) e Pedro (Rodrigo Santoro) são duas pessoas, aparentemenete sem nada em comum. Ênio controla o trânsito da cidade de São Paulo. Mesmo que eficiente na sua profissão, não demonstra a mesma segurança e o mesmo controle na sua vida pesoal: é de certo modo frustrado e incapaz de lidar com a existência de uma filha já adolescente (Rita Batata, mediana). Enquanto isso, Pedro é um exímio fabricante de mesas de sinuca e um hábil praticante do esporte. Vive um ótimo momento em sua vida: sua namorada (A ótima Branca Messina) acabou de mudar para a sua casa. A vida desses dois sujeitos irão se cruzar. Só que por ocasião de uma tragédia.
A estréia de Philippe Barcinski na direção de um longa surpreende pela profundidade dos temas- algo já previsto para um diretor aclamado por curtas existenciais e conceituais como A Escada(1996) e Postal Branco (1998)- e pelo controle do que se passa na tela. Nada é por acaso na película e mesmo quando o filme ameaça soar forçado, o diretor retorna a trama para o plano da causa e efeito. Grande trunfo do cinema nacional neste ano.
Nota: 8,5

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

No calor do ócio de um fim de semana...




Anos atrás, fiquei sabendo de um costume comum as famílias americanas no Natal. Assistir ao clássico “A Felicidade Não Se Compra”(1946), de Frank Capra. Mesmo que previsível e exageradamente otimista, o filme é claramente um conto de natal, possuindo assim um proposital tom de fábula. Ainda assim, a história, que conta com a beleza de Donna Reed e com a simpática canastrice de James Stewart consegue comover e emocionar.
Confesso. Esperava bem mais de “Um Filme Falado”(2003). Super comentado, criei grandes expectativas em cima desse filme português. Não que o filme seja ruim. Mas o insuportável didatismo de grande parte do longa chega a cansar em alguns momentos. Porém longos planos, com os dialógos mais inteligentes que já tive a oportunidade de assistir em um filme, nos quais contracenam John Malkovich, Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli e Irene Papas valem por toda a projeção. Questões como globalização, violência e União Européia ganham pauta e revelam um pouco do que há por trás do final chocante.
Desde “O Infiltrados”(2006), passei a olhar de uma outra forma para o trabalho de Martin Scorcese. "Taxi Driver" (1976) só veio confirmar de uma forma definitiva a genialidade desse cineasta, fã confesso de Gláuber Rocha. Atráves de Travis, o taxista interpretado por um inspiradíssimo Robert de Niro, que enxerga na violência uma maneira de escapar de sua vida insuportavelmente simples, podemos entrever um comportamento peculiar à natureza americana. E tudo isso com um sarcasmo de deixar qualquer cérebro com um sorriso latente.

domingo, 16 de setembro de 2007

Deliciosa surpresa: Maria Antonieta, por Sofia Coppola

Quando eu devia ter os meus 14 anos, me lembro perfeitamente de estar aguardando ser atendido pelo oftalmologista quando me deparei em uma revista qualquer com uma resenha sobre o filme “As Virgens Suicidas”(2000). Mesmo que o interesse pelo trabalho de Sofia Coppola tenha surgido aí, demorei anos para que pudesse entrar em contato com ele. Isso aconteceu em “Encontros em Desencontros”(2003). Com dois atores excepcionais (Bill Murray e Scarlett Johansson), Coppola conseguiu imprimir um dinamismo e uma melancolia sem precedentes a um dos melhores filmes sobre solidão que já tive a oportunidade de assistir. Aliás, solidão é o tema central de seu novo filme: Maria Antonieta. Na sinopse, temos a história de uma jovem garota, retirada de sua terra natal, para se casar com um sujeito de uma região distante. Sozinha em uma terra estranha sofre com o tédio e com os problemas sexuais de seu marido. Em um profundo descompasso com o mundo que a cerca, se entrega ao ócio e a futilidade. Não seria nada estranho se curtisse um bom rock indie. Ou se possuísse pares de All Stars. É, poderia ser a história da minha vizinha. Mas estou falando de Maria Antonieta, a austríaca que se tornou rainha da França em um conturbado contexto que culminaria na Revolução Francesa. Caracterizada sempre como um epíteto para futilidade, foi decapitada no calor da Revolução. Mas não é esse personagem, já mítico, que vemos no filme de Coppola. Nos vemos diante de um personagem irresistivelmente humano, com todas suas fraquezas e virtudes. E mais uma vez, temos a solidão, presente de uma tal maneira na vida da personagem, tranformando-a em uma relação dialética.Mas se este processo de humanização de um personagem tão controverso tenha partido da mente fértil da diretora, não estaria sendo justo se não desse os devidos créditos para Kirsten Dunst. Quase sempre relegada a papéis insossos em filmes mais insossos ainda, Kirsten compõe uma Maria Antonieta extremamente frágil, que viria a descobrir sua força tarde demais. Carismática, nos oferece uma personagem apaixonante.Chego assim a uma conclusão importante: Meu Deus, quero assistir a “As Virgens Suicidas” o mais rápido possível!

Saudades de um tempo não vivido.




domingo, 9 de setembro de 2007

Luxos de um fim de semana.






Antes de começar a escrever eu preciso fazer uma confissão. Sou fã assumido de Pedro Almodóvar. Até o momento não consegui encontrar nenhum outro diretor capaz de colocar em pauta o lado mais bizarro do ser humano com um tom deliciosamente crível. E poucos diretores conseguem extrair atuações tão marcantes de seu elenco. Na trama, Antonio Bandeiras brilha na pele de um personagem contido complexo e plausível. Nem de longe lembra o ator dos desastres da década de 90. Mas se A Lei do Desejo tem uma estrela, ela atende pelo nome de Carmem Maura. Com um tom escrachado, a atriz encarna com energia o papel de um transexual nesta película. Não foi à toa que a parceria entre a atriz e o diretor espanhol foi tão comentada no ano passado, as voltas do lançamento de Volver.
O que escrever de “Antes do Amanhecer” (1995)? Bem, fiquei hipnotizado por quase duas horas por Julie Delpy. Sem cair no melodrama ou no clichê, dirige um dos romances mais “cabeça” que já tive a oportunidade de assistir. Personagens verídicos, desses que você encontra na esquina. Dilemas que pensava que apenas eu possuía ganham vida no filme de Richard Linklater. Sim, meu caro leitor, existe vida inteligente para um gênero do cinema que carece de originalidade atualmente.
Uma ode aos ideias socialistas, The Edukators (2004) peca pelo exagero. E pelo tom irritantemente panfletário. Em alguns momentos, tive a sensação de estar assistindo a uma adaptação do Manifesto do Partido Comunista de Karl Marx. É um longa maniqueísta: capitalistas malvados versus jovens revolucionários. Que saudades de Kubrick, que nos mostrou com louvor como um filme pode ser subversivo sem ser necessariamente simplista...






"Arriscando minha vida por pessoas que detesto e por motivações que desconheço"

Confesso que estava receosos em assistir ao longa da família mais non sense da TV americana. Se a transposição de livros, gibis e até mesmo games e de certo modo problemática, pois é grande o risco de acabar descaracterizando o produto, imaginava que um desenho animado seria ainda muito mais complicado. Bem, guardei o meu medo e apostei minhas fichas. Resultado: a produção soa mais como um episódio estendido. O que é algo bem positivo. Todo humor acido típico dos Simpsons esta lá, com direito a momentos antológicos (como a participação da banda ativista Green Day). Mesmo que ocorra alguns deslizes, como os momentos com as edificantes (e ao mesmo tempo irritante) lições de moral, o longa não decepciona. Mérito de personagens construídos em quase duas décadas de história.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

domingo, 2 de setembro de 2007

Em um fim de semana oscilante....




Como falar de O Céu de Suely sem acabar caindo no lugar comum? Impossível. Belo, onírico e profundamente subjetivo. Um ser humano em uma jornada em busca da felicidade. Karim Ainouz valoriza o silêncio, as pausas e seus atores. Cinema da melhor qualidade.
Não acredito que demorei tanto para assistir Cinema Paradiso. Obra máxima de Giuseppe Tornatore. Uma clara ode de amor ao cinema. Singelo e poético. Impossível para cinefilos incondicionais conterem as lágrimas.
Como tudo não são flores, O Baixio das Bestas se mostrou a maior decepção da semana. Uma história polêmica (e cruel), um elenco excepcional (Mariah Teixeira, Dira Paes, Caio Blat, Matheus Nachtergaele) se perdem em meio a uma montagem incomoda, um áudio horrível e uma fotografia extremamente agressiva.
Boa surpresa. Jorge Furtado nos apresenta uma deliciosa comédia pautada no cotidiano. Diálogos agéis, elenco afiadíssimo. Saneamento Básico, o Filme, é a prova mais que definitiva que se pode fazer comédia no Brasil sem apelar para o mau gosto.