domingo, 9 de março de 2008

Sweeney Todd-O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet


Dando um tempo dos filmes cults e do cinearte daqui, esta semana resolvi vencer os meus preconceitos mais arraigados e peregrinar até o multiplex da minha cidade. O motivo era forte: a ultima semana de exibição do Sweeney Todd-O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. Olha, esse foi um dos longas que mais aguardei pela estréia. Desde que fiquei sabendo que Tim Burton iria dirigir o clássico musical da Broadway tendo o elenco encabeçado por Johnny Depp (Ele! Sempre ele!) e Helena Bonham Carter eu já comecei a roer as unhas de ansiedade e de entrar no You Tube a cata de trailers quase como um desesperado. A sinopse não poderia ser mais promissora: acusado e condenado por um crime que não cometeu, o barbeiro Benjamin Barker amarga anos na prisão. Ao sair, descobre que sua esposa faleceu e que sua filha vive na tutela do seu carrasco, o juiz Turpin. Enquanto planeja a sua vingança, auxiliado por sua vizinha, Sra. Lovett, reabre a sua barbearia. Só que os anos de sofrimento transformaram o sujeito. Agora ele vive momentos de cartase degolando seus fregueses. E esses corpos servem como recheio para as tortas da sua vizinha, o que vira sensação em Londres.


Cena do musical da Broadway

Então, acho que tanta ansiedade justifica em grande parte o fato de eu te saído do cinema com a expressão “É só isso” estampada na cara. Longe de ser ruim, Sweeney Todd é um filme impecavelmente belo. Em termos técnicos. Com uma direção de arte primorosa, nos vemos diante de uma Inglaterra fria, feia e escura: o retrato tão contrastante da Inglaterra áurea à época da Revolução Industrial. O estilo sombrio e exótico que consagrou Burton esta em cada canto da projeção. Mas ao contrário dos apaixonantes, para citar exemplos mais recentes, Peixe Grande e a Noiva Cadáver, em Sweeney Todd, temos uma ausência quase completa do fator humano. Explicando melhor: Burton dirige o longa corretamente, mas não consegue destrinchar para nós, espectadores, o coração de seus personagens. Eles ficam ali, presos numa ambigüidade que arranca por vezes um riso ou outro, mas nunca emocionam de uma forma verdadeira e genuína. E isso é um problema para um filme de um diretor que levou platéias do mundo inteiro as lágrimas por causa dos desencontros amorosos e existenciais de uma cara gótico com tesouras no lugar de mãos.


A dupla non sense em ação

Confesso que essa constatação me deixou de certo modo desconcertado, já que pela trama, Burton poderia ter criado um épico inesquecível. Mesmo assim, seria injusto se, apesar de todos esses percalços, eu não elogiasse a atuação de Helena Bonham Carter . Com toda a repercussão positiva pra o trabalho de seu colega de cena, a intérprete da Sra. Lovett foi sumariamente esquecida. E isso não poderia ser um pecado maior. Em um papel completamente disfuncional (aliás, com todos os personagens do filme) capta de uma forma hipnotizante a simpatia do espectador. E isso, é um grande trunfo.
E para acabar com esse papo, navegando por aí (mais especificamente no blog amigo “Espaço Zero”) descobri que provavelmente um dos próximos trabalhos de Burton é o clássico Alice no País das Maravilhas. A despeito de tudo, eu já estou aqui roendo as unhas. E de olho na internet.
Nota: 7,5

domingo, 2 de março de 2008

Em cartaz: A Vida dos Outros


E mais uma vez eu inicio esse texto mencionando como o cinema de uma cidade tão provinciana como a minha anda me surpreendendo ultimamente. Depois do romeno 4 Meses 3 Semanas e 2 Dias, semana passada foi a vez do alemão “A Vida dos Outros” dar as caras por aqui. Eu já tinha ouvido falar desse filme. Afinal de contas, ele me deixou bem furioso no ano passado, quando ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, deixando o meu favorito, "O Labirinto do Fauno" a ver navios.
Nem preciso dizer que fui todo empolgado no cinema. Esperava ter argumentos concretos para sair da sala criticando o fato do Oscar ser injusto, e nunca premiar filmes que realmente merecem. Felizmente, esses meus pensamentos se mostraram um ledo engano. “A Vida dos Outros” não é só um filme bem escrito, bem amarrado e com um elenco impecável. É um longa carregado de uma sensibilidade ímpar.


Ulrich Mühe como o oficial Wiesler

Logo nas primeiras cenas, vemos o capitão Wiesler (Ulrich Mühe) mostrando para os seus alunos como extrair a verdade durante um interrogatório. Estamos falando de um contexto bem favorável para esse tipo de pratica: A Republica Democrática Alemã, que transformou a vida de seus cidadãos numa espécie de Big Brother. Austero, frio e eficiente, é encarregado de monitorar as escutas instaladas na casa do dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch) e de sua namorada, atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck). É nesse ponto que um dos arcos dramáticos mais interessantes que eu já vi ultimamente em um filme se desenha. Do oficial disciplinado, que mesmo convivendo com as mazelas de um sistema claramente falido continua a agir de acordo com motivações um tanto quanto obscuras (Responsabilidade? Conveniência), se torna em um sujeito capaz de enganar os seus superiores para que aquelas vidas que “assiste” não sofram as conseqüências de seus atos num clima não muito propício. Ora, é a vida dos outros que dá um pouco de alento e um sentido para uma existência tão solitária. Ao mergulhar em subjetividades tão distintas da sua, acaba seduzido. Vale mencionar ainda como o tema "Republica Democrática Alemã” ou mais genericamente “União Soviética” tem gerado filmes bem interessantes nas ultimas décadas. O caso mais claro que esta na minha mente agora é o excepcional “Adeus Lênin”.
Eu encerro esse texto falando de um costume nada convencional que tenho quando vou ao cinema. As vezes, nos momentos mais inóspitos possíveis, gosto de olhar ao meu redor e encarar as pessoas. Ficar ali, tentando adivinhar no escuro o que podem estar pensando de uma cena qualquer. E lá pelo final, quando eu já me debulhava em lágrimas (Ok. Não sou parâmetro de comparação para ninguém. Consigo chorar vendo propaganda de papel higiênico), olhei para os lados e vi que não era o único. Foi aí que cheguei numa importante constatação nessa minha curta carreira de cinéfilo: finais verdadeiros, despidos de um pieguismo exagerado ou de um sentimentalismo barato emocionam. E como.
Nota: 10

"O socialismo tem que começar em algum lugar."
Wiesler