
Dando um tempo dos filmes cults e do cinearte daqui, esta semana resolvi vencer os meus preconceitos mais arraigados e peregrinar até o multiplex da minha cidade. O motivo era forte: a ultima semana de exibição do Sweeney Todd-O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet. Olha, esse foi um dos longas que mais aguardei pela estréia. Desde que fiquei sabendo que Tim Burton iria dirigir o clássico musical da Broadway tendo o elenco encabeçado por Johnny Depp (Ele! Sempre ele!) e Helena Bonham Carter eu já comecei a roer as unhas de ansiedade e de entrar no You Tube a cata de trailers quase como um desesperado. A sinopse não poderia ser mais promissora: acusado e condenado por um crime que não cometeu, o barbeiro Benjamin Barker amarga anos na prisão. Ao sair, descobre que sua esposa faleceu e que sua filha vive na tutela do seu carrasco, o juiz Turpin. Enquanto planeja a sua vingança, auxiliado por sua vizinha, Sra. Lovett, reabre a sua barbearia. Só que os anos de sofrimento transformaram o sujeito. Agora ele vive momentos de cartase degolando seus fregueses. E esses corpos servem como recheio para as tortas da sua vizinha, o que vira sensação em Londres.

Cena do musical da Broadway
Então, acho que tanta ansiedade justifica em grande parte o fato de eu te saído do cinema com a expressão “É só isso” estampada na cara. Longe de ser ruim, Sweeney Todd é um filme impecavelmente belo. Em termos técnicos. Com uma direção de arte primorosa, nos vemos diante de uma Inglaterra fria, feia e escura: o retrato tão contrastante da Inglaterra áurea à época da Revolução Industrial. O estilo sombrio e exótico que consagrou Burton esta em cada canto da projeção. Mas ao contrário dos apaixonantes, para citar exemplos mais recentes, Peixe Grande e a Noiva Cadáver, em Sweeney Todd, temos uma ausência quase completa do fator humano. Explicando melhor: Burton dirige o longa corretamente, mas não consegue destrinchar para nós, espectadores, o coração de seus personagens. Eles ficam ali, presos numa ambigüidade que arranca por vezes um riso ou outro, mas nunca emocionam de uma forma verdadeira e genuína. E isso é um problema para um filme de um diretor que levou platéias do mundo inteiro as lágrimas por causa dos desencontros amorosos e existenciais de uma cara gótico com tesouras no lugar de mãos.

A dupla non sense em ação
Confesso que essa constatação me deixou de certo modo desconcertado, já que pela trama, Burton poderia ter criado um épico inesquecível. Mesmo assim, seria injusto se, apesar de todos esses percalços, eu não elogiasse a atuação de Helena Bonham Carter . Com toda a repercussão positiva pra o trabalho de seu colega de cena, a intérprete da Sra. Lovett foi sumariamente esquecida. E isso não poderia ser um pecado maior. Em um papel completamente disfuncional (aliás, com todos os personagens do filme) capta de uma forma hipnotizante a simpatia do espectador. E isso, é um grande trunfo.
E para acabar com esse papo, navegando por aí (mais especificamente no blog amigo “Espaço Zero”) descobri que provavelmente um dos próximos trabalhos de Burton é o clássico Alice no País das Maravilhas. A despeito de tudo, eu já estou aqui roendo as unhas. E de olho na internet.
Nota: 7,5